Onças pintadas com as patas em carne viva, jacarés carbonizados, tamando a bandeira com 90% do corpo queimado. Esse é um pouco do cenário alarmante que as queimadas estão causando na região do Pantanal brasileiro. Com quase 140 mil quilômetros quadrados no Brasil, essa é a maior área úmida tropical do mundo, e que agora já perdeu 15,61% do território pelo fogo, de acordo com o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Esse desastre tem um impacto mortal sobre a vida selvagem, como revela o médico veterinário do Grupo de Resposta a Animais em Desastres, Enderson Barreto. A gente tem encontrado muitos animais carbonizados, queimados, animais que realmente não conseguiram escapar do fogo.
Os outros animais que a gente resgata queimados são animais que acabam entrando em áreas que foram queimadas e queimando as patas, essa é uma característica muito peculiar do Pantanal, que é esse fogo subterrâneo. Então a gente olha pela superfície, não parece que está queimando, mas quando o animal caminha até essa área, ele acaba fundando e debaixo dessa superfície está pegando fogo e acaba queimando, atingindo principalmente as patas desse animal.
Os incêndios deste ano já superaram em quase 8% o registrado no mesmo período até agosto de 2020, ano que foi recorde de queimadas. O veterinário do grade, Anderson Barreto, relata que essa é a primeira vez que encontraram onças mortas e isso reforça a magnitude dos incêndios.
A gente tenta fazer uma estimativa do número de animais mortos, mas a gente tem um péssimo indicativo. 2020 foi um incêndio catastrófico, a gente não teve óbito. De onças, por exemplo. Esse ano nós já tivemos registrados três óbitos de onça, que é um animal topo de cadeia que tem uma capacidade de deslocamento muito rápida, corre nada, escala, e estão sendo afetados de forma muito brusca. Então a gente entende que todos os animais de base de cadeia estão sendo altamente afetados.
Isso é uma informação bastante preocupante nesse sentido.” Grupos que atuam nos focos de incêndio temem que o número de mortos possa ser maior do que o dos incêndios que devastaram a região em 2020, matando 17 milhões de animais e queimando cerca de um terço do pantanal brasileiro.