Grupo Cia ÚNICA de Teatro explora a espiritualidade afro-brasileira e a temporalidade na construção do espetáculo ‘AKOKO LATI WA NI – Tempo de Ser’

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Redação Vibenews

O tempo, ultimamente, tem sido alvo de grandes questionamentos e reflexões. Ele dita o ritmo da vida e, para o jovem negro, pode ensinar, revoltar e levantar questões, incertezas e imediatismo. Muitas vezes, essa pressa suprime a reflexão sobre a verdadeira natureza do tempo e sua profundidade espiritual.

Diante desse fato e visando buscar uma conexão mais profunda com as raízes culturais afro-brasileiras, surgiu o projeto “AKOKO LATI WA NI – Tempo de Ser”, uma iniciativa da Cia ÚNICA de Teatro de Feira de Santana, que através da reflexão sobre o tempo, trata questões, promove ensinamentos e incentiva o desenvolvimento de artistas locais.

*O Projeto “AKOKO LATI WA NI – Tempo de Ser”*

O projeto traz a visão do orixá Iroko, o senhor do tempo, e levanta uma discussão sobre a espiritualidade, a temporalidade e sua influência na vida cotidiana, especialmente na vida do jovem negro.

O enredo da ação principal do projeto, que é a montagem do espetáculo “AKOKO LATI WA NI – Tempo de Ser”, é conduzido por três narradores-personagens que se desdobram entre contar e viver a trajetória em busca da compreensão do tempo e da juventude, assumindo diferentes peles e personalidades ao longo da narrativa.

Partindo do ponto principal que é a construção do espetáculo, o projeto conta com uma série de laboratórios gratuitos de formação voltados para integrantes do grupo , assim como para agentes culturais, artistas negros e pessoas de Feira de Santana e região interessadas na experimentação cênica.

“A ideia é contribuir com a cena local no âmbito da qualificação artística, oferecendo através das ações do projeto oportunidades para que todes os artistas possam desenvolver suas habilidades, explorar novas linguagens e fortalecer a cultura regional”, conta Luiz Antônio Sena Jr, produtor-colaborador da Cia ÚNICA.

Sob a direção e dramaturgia de Onisajé, reconhecida por seu trabalho como diretora teatral, preparadora de atores, dramaturga, e doutora em artes cênicas, referência no teatro negro e nas relações étnico-raciais, o projeto ganha profundidade e autenticidade.

“A gente não queria trazer uma temática como essa sem uma pessoa que realmente soubesse e tivesse propriedade sobre o tema escolhido. Então, o nome de Onisajé surgiu em uma reunião com o grupo e os integrantes do projeto. Não tínhamos e nunca tivemos nenhum contato com ela, mas de forma muito simbólica e surpreendente, conseguimos sua aderência ao convite”, relata Ana Pinheiro, atriz do grupo.

Para Onisajé, o projeto não é apenas uma oportunidade de trabalhar com jovens artistas do interior, mas também uma forma de se conectar com suas próprias raízes.

“O convite foi bem-vindo, e, de certa forma, me reconheci nos jovens que apresentaram o projeto. Colaborar com o processo de formação e realizar esse espetáculo com eles é uma forma de revisitar a minha própria história. É olhar para esses jovens do interior, que desejam viver de arte e fazer da arte sua profissão, e mostrar que é possível trilhar esse caminho e construir sua trajetória no campo artístico”, disse a diretora e dramaturga.

*Atividades e programação*

Através de uma troca com o TPC – Artes Negras Integradas e o OYÁ L’ADÊ INAN Ponto de Cultura, os atores e a equipe do projeto se aprofundam nas tradições do Candomblé, na cultura popular brasileira e na filosofia do tempo.

Os Laboratórios de Formação incluem: Café dramático com com Onisajé, Eu vejo você por Fabiola Nansurê, Pintando sentimentos – Luz em cena com Nando Zâmbia, Canto em Exercício por Denner Lobo, e Ojuinan – Laboratório de Preparação de Atuantes negros com Onisajé.

Além de outras ações paralelas, como Diálogo com a Comunidade, Roda de Conversa com Lideranças Religiosas, artistas e membros da comunidade de diversas idades, que vão oferecer diferentes perspectivas sobre o tema ‘Tempo’ e apresentações do espetáculo principal ‘AKOKO LATI WA NI – Tempo de Ser’.

O Café Dramático – Laboratório de Leitura e Estudo de Textos Teatrais Negros, conduzido por Onisajé, foi o primeiro laboratório a ser realizado e permitiu para os participantes a leitura e estudo de textos teatrais negros, onde todos foram estimulados a conhecerem mais sobre a dramaturgia negra e suas diversas estéticas. Com recorde de inscrições, o momento aconteceu de forma virtual nos dias 26, 27 e 28 de junho, totalizando 104 pessoas inscritas, espalhadas por diversas localidades do Brasil.

Já a Imersão AKOKO LATI WA NI, propôs uma formação imersiva e integrada para os atuantes envolvendo três laboratórios conduzidos por diferentes profissionais baianos: Ojuinan – Laboratório de Preparação de Atuantes, com Onisajé; Eu Vejo Você – Laboratório de Dança dos Orixás para não-dançarinos, com Fabíola Nansurê e Canto em Exercício – Laboratório de Voz, com Denner Lobo. Ambos foram realizados de forma presencial, no CUCA – Centro Universitário de Cultura e Arte da UEFS, entre os dias 15 e 24 de julho.

‘’Pude perceber e vivenciar uma intensidade muito grande em cada aula, em cada proposta que foi dada pelos professores. Foi tudo muito incrível, mágico, a gente conseguiu tirar muito aprendizado disso e trazer nosso lado artístico mais presente, foi uma sensação indescritível”, relatou Arielle Liza, participante da imersão AKOKO LATI WA NI.

Refletindo sobre o processo de montagem do espetáculo, da participação da imersão e do Café Dramático, Júlia Lorrana, atriz da Cia ÚNICA de Teatro, compartilhou o impacto pessoal e artístico da vivência, destacando como a experiência não apenas moldou sua visão de atuação, mas também influenciou sua perspectiva de vida.

“Foi um processo muito bacana e desafiador descolonizar nossos corpos. Acho que isso ficou muito marcado para mim, e eu vou levar para a minha vida. Tenho dito que todo esse processo, desde o Café Dramático até o momento de Imersão do AKOKO LATI WA NI, tem sido algo que constrói tanto a Júlia atriz quanto a Júlia pessoa”, afirmou Júlia.

*Sobre o Grupo Cia Única de Teatro*

A Cia ÚNICA de Teatro foi idealizada em 2018 por Júnior Dias e Júlia Lorrana, quando o grupo iniciou seus trabalhos de pesquisa, construção e montagem. Em 2021, estreou o espetáculo “A Aventura de Joca” de forma virtual em seu canal no YouTube, acompanhado da série documental “Por Detrás das Cortinas”, alcançando mais de 1.000 pessoas de diferentes públicos. A Cia ÚNICA participou de festivais e diversos eventos culturais, além de ter recebido o Troféu Henrique Motté no 14º FENATIFS. Atualmente a companhia é composta pelos atores: Júlia Lorrana, Aninha Pinheiro, Júnior Dias, Liu Silva e Denner Lobo.

*Equipe ‘AKOKO LATI WA NI – Tempo de Ser’*

Aninha Pinheiro – Atriz
Júlia Lorrana – Atriz
Júnior Dias – Ator
Onisajé – Dramaturgia e Direção
Fabíola Nansurê – Assistência de Direção, a Preparação Corporal e Coreógrafa
Guilherme Hunder – Direção de Arte
Luiz Antônio Sena Jr – Coordenação de Produção
Fernando Souza – Produção Executiva
Nando Zâmbia – Desenho de Luz
Denner Lobo – Direção Musical
Mãe Rosa de Oya – Consultoria de Axé
Liu Silva – Operação de Som e Gerenciamento de Redes Sociais
Ângelo Máximo – Operação de Luz
Talita Medeiros – Design Gráfico
Sergio Portto – Consultor de Acessibilidade e Intérprete de Libras

O projeto conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana, Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Feira de Santana, Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura e Governo Federal. Além disso, tem parceria com o Ponto de Cultura L’adê Inan e o TPC (Teatro Preto de Candomblé), produção de ‘DA GENTE Produções’ e assessoria da Casa das Águas Comunicação e Cultura.

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