Dentro da Campanha Cultura Negra Vive, iniciada agora em novembro pelo Ministério da Cultura, foi lançada nacionalmente, na sede da Fundação Palmares, a campanha Tradições de Matriz Africana Contra o Racismo.
Encabeçada pelo Pontão de Cultura Ancestralidade Africana no Brasil, que fica em Ribeirão Preto (SP), um dos focos da iniciativa, é convocar artistas, ativistas, coletivos, organizações, entidades e instituições públicas e privadas a se unirem na construção de um calendário unificado de ações que visam a valorização dessas tradições.
A Iyalorixá e ativista cultural, Mãe Beth de Oxum, reconhecida como Patrimônio Vivo de Pernambuco, está há mais de 30 anos à frente do Ponto de Cultura Coco de Umbigada, no bairro de Guadalupe, em Olinda. O local também abriga o terreiro Ilê Axé Oxum Karê. Ela reforça a necessidade de mobilização destes atores e de seus territórios no combate ao racismo.
“É uma campanha que vem da sociedade civil, vem de um pontão de matriz africana, vem dos terreiros do país. E a gente precisa reverberar, a gente precisa fazer com que essa campanha, ela tome corpo, porque o racismo está impregnado na alma brasileira.”
De acordo com a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, somente no primeiro semestre deste ano foram registradas 1.940 denúncias de intolerância religiosa, representando um aumento de 332% em quatro anos. A maioria das denúncias foram feitas por praticantes de tradições de matriz africana, demonstrando a importância do engajamento social no combate ao racismo religioso.
Reunião
Nesta segunda-feira (11), o Comitê Gestor do Pontão e representantes do Ministério da Cultura se reuniram para discutir os próximos passos do projeto e reiterar o compromisso com a defesa das tradições afro-brasileiras.
O encontro foi realizado na sede do Ministério e contou com a participação da secretária de Cidadania e Diversidade Cultural, Márcia Rollemberg, que reforçou a importância do fomento aos Pontões de Cultura na reativação da Política Nacional de Cultura Viva (PNCV), fortalecendo as redes de Pontos de Cultura territoriais e por temáticas.
“A rede de Pontões é uma parceria da maior importância e todos os resultados têm sido muito potentes, desde os cursos para pareceristas, as campanhas, as aulas de EAD, os Agentes Cultura Viva e cada um fazendo da sua maneira. Essa diversidade também é o que nos nutre. Então, eu me sinto muito grata por essa parceria”, avaliou.
Segundo Pai Lula, do Ponto de Cultura Associação do Culto Afro Itabunense (ACAI), retomar a política dos pontões é um sonho e uma demanda antiga da sociedade civil.
“A gente sabia desse potencial. Hoje, são essas pessoas e essas ações que estão fazendo a defesa da democracia para além da cultura, para além da Cultura Viva e para além do nosso segmento religioso ou tradicional. É importante pensar que é preciso achar ferramentas, formas e recursos para a gente dar conta da dimensão e da escala dessa política”, reforçou.
O Cultura Ancestralidade Africana no Brasil é um dos Pontões de Cultura selecionados no Edital Nº 09/2023 para desenvolver um projeto cultural por 12 meses. Realiza ações de articulação e mobilização da rede, formação e capacitação, seleção de Agentes Cultura Viva, além do Mapeamento dos Territórios Tradicionais de Matriz Africana e suas iniciativas culturais.
Além da entidade proponente (Centro de Cultural Orunmilá), esse pontão tem um comitê gestor composto por sete Pontos de Cultura das cinco regiões do Brasil, que são referência da Política Nacional da Cultura Viva e no segmento de Matriz Africana.
São eles:
Ponto de Cultura Centro Cultural Coco de Umbigada, Olinda/PE;
Ponto de Cultura ÀGÒ LÔNÀ, Água Branca/SP;
Ponto de Cultura Associação do Culto Afro Itabunense – ACAI, Itabuna/BA;
Ponto de Cultura Ação e Tradição – Distrito Federal;
Ponto de Cultura Tambores da Igualdade, Carazinho/RS;
Ponto de Cultura Jovens Pesquisadores, Pradópolis/SP;
Ponto de Cultura Mocambo Cultura – Rede de Coletivos de Artistas e Articuladores Negros, Porto Velho/RO;