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Mesmo com melhora econômica, cresce o número de pessoas em situação de rua no Brasil

Foto: Reprodução/ Internet

Apesar da recuperação da economia e da queda da pobreza extrema, o número de pessoas em situação de rua no Brasil segue aumentando.

Dados do CadÚnico mostram que, em 2024, cerca de 350 mil pessoas viviam nessa condição — um aumento de 142% em relação a 2019.

Especialistas ouvidos pelo jornal O Globo avaliam que o problema vai além da economia.

Faltam abrigos, centros de apoio e políticas públicas integradas para lidar com a questão.

Hoje, 84% das pessoas em situação de rua são homens, 69% se declaram negras e a maioria vive em grandes cidades.

A divergência entre os números oficiais também dificulta o enfrentamento do problema: os dados do CadÚnico, do IBGE e dos censos municipais mostram diferenças significativas.

Desafios do Ruas Visíveis

Diante do agravamento do quadro, o governo federal lançou o programa Ruas Visíveis, coordenado pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. A iniciativa busca articular ações de habitação, saúde, assistência social, trabalho e cultura. Porém, seu orçamento anual de R$ 1 bilhão é considerado insuficiente pelos especialistas para fazer frente à complexidade e escala do problema.

Segundo Maria Luiza Gama, diretora do ministério, a pandemia de Covid-19 acelerou a crise, com desemprego, despejos e rompimento de vínculos — especialmente entre a população LGBTQIA+. Ela defende uma abordagem integrada, com moradia como eixo central de cuidado. “A política ideal é preventiva. É preciso oferecer caminhos de saída que envolvam saúde mental, acesso a renda e vínculos familiares”, diz.

O programa Ruas Visíveis inclui ações-piloto de moradia cidadã, em que o domicílio funciona como ponto de partida para a reintegração social. Mas, como ressalta Natalino, a resposta ainda é pontual. “Centros POP e Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) fazem um trabalho relevante, mas são poucos e muitas vezes sobrecarregados. Falta escala e efetividade”, avalia.

Divergência de dados

Há ainda divergência sobre o número real de pessoas vivendo nas ruas. O último censo do IBGE foi em 2022, com nova pesquisa prevista apenas para 2028. Enquanto o CadÚnico aponta 22,4 mil pessoas em situação de rua no Rio de Janeiro, o censo municipal de 2022 registrava 7,8 mil. Em São Paulo, o CadÚnico mostra 95 mil, mas o levantamento da prefeitura de 2021 contava 31,8 mil.

Joana Darc Bazílio da Cruz, coordenadora nacional do movimento de população de rua, critica a falta de articulação entre os entes federativos e a resistência de governos estaduais em adotar o programa Ruas Visíveis. “O que falta é vontade política e moradia digna com acesso a saúde, educação, trabalho e cultura. O que existe hoje é uma segregação social irreparável”, afirma.

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