De acordo com o estudo Vigitel, realizado pelo Ministério da Saúde em 2021, Salvador é uma das cinco capitais brasileiras com menor percentual de fumantes. A redução do fumo entre os soteropolitanos é resultado de políticas públicas voltadas ao combate do tabagismo, como a Lei 7.651/2009 que proíbe o uso do cigarro em ambientes coletivos. Mas o avanço conquistado em mais de uma década pode ser prejudicado por conta de uma nova opção: o cigarro eletrônico.
Com design atrativo e uso dos aditivos de sabores variados, os dispositivos eletrônicos criados para manejo de nicotina são a aposta da indústria para atrair uma nova clientela. “Há uma crescente de campanhas agressivas tendo como alvo a população jovem, assim como foi vivenciado por nossos pais e avós com o cigarro convencional”, alerta dra. Juliane Penalva, pneumologista e responsável pelo Serviço de Cessação do Tabagismo do Hospital da Bahia, que faz parte da Dasa, maior rede de saúde integrada do Brasil.
O vape, como é chamado popularmente, surgiu como uma suposta opção mais saudável ao cigarro normal. E, ainda há quem defenda que o dispositivo pode ajudar dependentes a largar o vício em nicotina. Mas, estudos robustos apontam que seu consumo pode ser tão ou mais nocivo do que o do cigarro convencional, que tem no máximo um miligrama de nicotina, como está estabelecido pela Anvisa. Enquanto isso, o cigarro eletrônico não sofre nenhum tipo de regulamentação, podendo ultrapassar os limites de nicotina.
A nicotina é uma das substâncias que mais proporcionam o vício e em quantidades elevadas, encontra terreno fértil no organismo de adolescentes. “O cérebro do jovem está em formação e alguns processos ainda estão amadurecendo, como o mecanismo de recompensa, que é facilmente ativado pela nicotina. Quando faz uso do cigarro, o jovem experimenta uma sensação de bem-estar mais intensa do que os pacientes com mais idade, o que predispõe ao vício”, explica a especialista.
Ainda no quesito neurologia, o acidente vascular cerebral também surge como uma preocupação. “Estudos recentes apontam que o paciente que está consumindo apenas cigarro eletrônico tende a ter um AVC até dez anos mais cedo do que aquele que está usando o cigarro normal”, aponta dra. Juliane
Além dos impactos no sistema nervoso e na saúde cardiovascular, é impossível não pensar nos danos que o fumo pode causar ao sistema respiratório. A dra. Juliane destaca que o uso do cigarro eletrônico pode piorar doenças pulmonares crônicas, além do desenvolvimento de questões respiratórias como a EVALI (do inglês, E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury). “A Evali, desencadeada exclusivamente pelo uso de cigarros eletrônicos, tem como principais sintomas a tosse, falta de ar, dor torácica e febre. Esses sintomas podem ser intensos, demandando atendimento médico de urgência, suporte com ventilação mecânica para obter boa oxigenação do sangue e, inclusive, podem evoluir a óbito”.
Diante do cenário preocupante, os especialistas têm uma missão dupla: alertar o público – sobretudo pais e responsáveis – sobre os riscos do cigarro eletrônico, banalizado por uma propaganda muito eficaz; e desenvolver estratégias para combater o vício dos pacientes.
“Cessar o uso do cigarro eletrônico pode ser mais difícil que o do convencional. A recomendação é procurar serviços que ofereçam tratamentos adequados para cessação de tabagismo e contar com auxílio médico e psicológico”, finaliza dra. Juliane.