Viver com saúde depende de como o indivíduo lida com o seu corpo (a alimentação, a prática de exercícios, o espaço adequado para o lazer, para o trabalho e para o repouso), com sua mente (suas emoções) e com o meio ambiente.
O corpo adoece quando perde o poder de se adaptar ao meio externo, quando as agressões do dia a dia superam seus mecanismos de defesa, levando ao desequilíbrio. Dentro do pensamento chinês e da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), a doença é uma manifestação de desequilíbrio das energias Yin e Yang do corpo, e a Acupuntura seria uma forma de recuperar a harmonia perdida.
Esse desequilíbrio pode ser causado por vários fatores. As causas de doença então são didaticamente classificadas em três grupos: as doenças de origem externa (fatores climáticos), as doenças de origem interna, causadas pelas emoções excessivas ou persistentes, e um terceiro grupo de doenças chamadas nem internas nem externas, que inclui os traumatismos, os maus hábitos de vida, distúrbios da dieta, entre outros.
Vamos tratar aqui dos fatores internos de adoecimento. Os fatores internos são talvez os mais importantes segundo a MTC. Também são conhecidos como fatores emocionais, pois se referem aos efeitos nocivos das emoções excessivas sobre os órgãos.
As emoções em si não são causadoras de doenças, pois são inerentes à natureza humana. É normal que as pessoas sintam uma variedade de emoções em diferentes circunstâncias, como também é normal que cada pessoa desenvolva mecanismos de defesa e compensação para reagir a essas emoções. Porém , quando as emoções são prolongadas, intensas, reprimidas ou não admitidas, afetam o equilíbrio interno do indivíduo, levando a uma alteração do fluxo de energia, gerando doenças. A doença não surge de uma hora para outra; é fruto de uma sucessão de experiências estressantes acompanhadas por uma fragilidade do mecanismo de proteção.
Cada tipo de emoção pode afetar um órgão ou sistema do corpo para causar determinados sinais e sintomas. Para efeito de estudo, costumamos detalhar as várias emoções e sentimentos correlatos como a seguir:
A raiva é uma emoção abrupta, violenta, intensa. Quando os ataques de raiva são excessivamente intensos ou repetidos causam dano ao paciente. Variações dessa emoção são o mau humor, a irritabilidade, a indignação, a revolta, o ressentimento e a frustração, sentimentos que não são abruptos nem tão intensos, mas são contínuos e provocam doença. Os sintomas relacionados à raiva e seus sentimentos associados são bloqueios e espasmos, principalmente musculares, em locais como a mandíbula e o trapézio, agitação psicomotora, loquacidade, palpitações, insônia, vermelhidão facial, hipertensão arterial, hiperemia conjuntival, cefaleia pulsátil, dispneia subjetiva, assim como fadiga e dificuldade de concentração.
O medo excessivo é um sentimento crônico e contínuo, associado à submissão, humilhação e impotência, onde a pessoa se sente ameaçada e é incapaz de reagir. Manifesta-se com quadros como perda do controle esfincteriano, perda de força nas pernas, falta de memória, desinteresse, envelhecimento precoce, perda de cabelos, lombalgia, fraqueza dos joelhos, dos dentes, zumbidos e emagrecimento. O pavor é um sentimento agudo e muito intenso de medo, de curta duração, mas que ocupa todo o espaço psíquico do paciente, e está associado ao susto e ao choque. E pânico é o pavor associado a distúrbios da mente. Quadros de pavor manifestam-se com disfunção dos esfíncteres interiores, sudorese fria, palpitações, fraqueza nas pernas, paralisia súbita, perda da fala, tremores.
Euforia é um sentimento de alegria excessiva, no qual a pessoa fica excitada continuamente sem dar atenção aos outros aspectos da sua vida. Os quadros associados a ela são a mania (estado de agitação e aumento da velocidade do pensamento) e a ansiedade. O paciente apresenta labilidade emocional, expressão facial inadequada às situações, confusão mental, delírio, desorientação, loquacidade, palpitações, insônia.
Meditação excessiva, na MTC, se refere ao uso excessivo das atividades intelectuais, como o trabalho mental e o estudo, que ocorrem como exigências do dia a dia. Também à preocupação, que desvia o pensamento para um determinado assunto, do qual o paciente não consegue se desligar. Um sentimento associado é a obsessão, onde um determinado assunto se torna absolutamente prioritário. É necessário que se exerça uma atividade lúdica para aliviar o trabalho intelectual, senão se instala a desarmonia, cujos sintomas são: memória ruim, sensação de cabeça oca, plenitude abdominal, dor epigástrica, do nos hipocôndrios, irritabilidade, anorexia, palidez e diarreia.
Mágoa, pesar ou angústia surge quando a pessoa sabe de um fato desagradável, em geral, notícias ruins que causa incômodo ou mal estar. É um sentimento que causa agitação interna mal definida, com palpitações, mal estar precordial, suspiros, respiração irregular, arritmias e sudorese.
Tristeza é um sentimento que combina desalento, falta de perspectiva e falta de prazer com a vida. Os sentimentos associados são a depressão e a timidez. Evolui com quietude, dispneia, cansaço, palidez, extremidades frias, indiferença, lombalgia, diminuição da libido.
Como dito anteriormente, cada um desses sentimentos, quando exagerados e persistentes, é capaz de afetar um ou mais órgãos ou sistemas do corpo, gerando doença, e por outro lado um mesmo sintoma pode ser causado por várias emoções. Um médico acupunturista experiente poderá detectar e diferenciar os diversos sinais e sintomas e classificá-los em síndromes para prescrever a combinação de pontos adequada para o tratamento.
O tratamento com a acupuntura, associado a um bom atendimento psicológico e/ou psiquiátrico, ajuda o paciente a amenizar os sintomas e adquirir a tranquilidade necessária para lidar os as situações conflitantes. Explicando resumidamente, há a liberação de substâncias como a endorfina, dopamina e serotonina em várias regiões do cérebro, resultando em efeitos tranquilizantes, antidepressivos, relaxante muscular, assim como melhora as funções dos órgãos internos.
É necessário lembrar sempre que é necessário também um bom diagnóstico baseado nos conceitos da medicina ocidental, para não haver risco de agravamento de uma doença de causa orgânica enquanto é tratada como de origem psicossomática. O tratamento com acupuntura deve ser feito sempre com um médico acupunturista. Fonte: Lourdes Soares